Leh Rodrigues

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Canção de Um Velho Poeta Na Praça da Ilusão - Leh Rodrigues

Canção de Um Velho Poeta Na Praça da Ilusão - Leh Rodrigues



Enquanto pessoas andam por aí
Sem rumo, buscando um sentido para as suas vidas
Eu aqui sonho ao som da canção de um poeta
Alimentando pombos, na praça da ilusão

A burguesia vai engordando seu ventre,
Enquanto nos faróis da cidade,
Crianças mendigam uns trocados
Para sobreviver ao abandono

Os barões das favelas
Assumem o papel da administração coletiva
Dobrando a cerviz da comunidade
Se impondo pelo terror

Gente e animais disputam comida
Nas latas de lixo de um beco qualquer
Saciando-se como vermes
Em um corpo sem fé

E os homens do comando irracional
Discutem seus "míseros" proventos,
Enquanto os sonhos de minha gente
Voam pelos ventos da indiferença política...

Os doutores se impõem como deuses
À custa de presentes e honorários,
Sem horário nem compaixão
Das vítimas do serviço público

Enquanto isso os consoladores do espirito
Deixam cegar-se pelo puritanismo
Vestem-se do relativismo
Do poder dos maiorais,

Preocupados com seus status religioso,
Enganam salmodiando salvação e alegria,
Quando eles mesmos estão até o pescoço
Atolados no tártaro da demagogia

Homens ferozes e fardados
Contam vidas como troféus de um jogo atroz
E rufiões se sustentam com corpos em dívida
Que se vendem por uma migalha de vida

Enquanto vejo tudo isso por aí
Eu aqui
Sonho ao som da canção
De um poeta alimentando pombos, na praça da ilusão


sábado, 15 de fevereiro de 2020

Dance - Leh Rodrigues

   Dance - Leh Rodrigues

Dance na ciranda do tempo,
Rodopiando ao sabor da canção da vida.

Dance com as estrelas sob o olhar da lua cheia,
Quando a escuridão teme o raiar do dia.

Dance como as crianças na inocência dos seus movimentos,
Com a ingenuidade de seu momento.

Dance ao sabor dos ventos de agosto,
Quando cães loucos ladram ao infinito.

Dance com seus fantasmas,
Enquanto assombram sua alma de ódio.

Dance com as nuvens,
Na ilusão das imagens que te maravilham os olhos.

Dance sem medo,
Sem dor ou segredo.

Dance na correnteza dos rios,
Serpenteando as pedras no cio.

Dance no movimento das ondas salgadas
Enquanto a natureza entoa uma canção sagrada.

Dance pelos mortos que te amaram
E pelos corpos que nunca te tocaram.

Dance com mendigos e cortesãs,
Entre anjos e demônios de noite até manhã.

Dance em pesadelos e sonhos,
Entre Marias e Antonios.

Dance como se fosse do cosmo o último dia,
Como se a última dança fosse sua despedida.

Dance comigo antes que morra a canção
E o tempo silencie por completo o meu coração....

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Delírio no Outro Lado do Éden – Leh Rodrigues


Delírio no Outro Lado do Éden – Leh Rodrigues


Da minha essência fiz nascer o sol
E um brilho de arrebol nos olhos seus
Te dei o paraíso, a perfeição e coração.
Te dei tudo menos o que era meu

Te deu o céu como abrigo
E seu corpo se vestia de pureza
Até quando vou me dobrar aos seus delírios?
Sinto meu corpo ácido

Quatro rios que corriam
Saciavam a sede do seu lar
Á noite te ofertava a lua,
Era sua em cada luar

A lua lhe ofertou suas pérolas de vidro
Como usura pela tua beleza.
E toda a sua vítrea formosura
Refletiu a tua pura e doce natureza

As estrelas diante de tua glória
Se curvaram como damas de companhia
As flores aspiravam sua pele
Fosse o dia sua noite ou a noite o seu dia

Das fontes do delta até o umbigo
Seu corpo vesti de pureza
O céu te dei como abrigo,
Há cada manhã haveria uma certeza

No jardim da vida
Tudo era festa de existência
No meio da obra de um Deus Rei
Havia a tentação da ciência

O belo se conformava a sua silhueta
Por todo o lado o paraíso
Em cada canto, havia um canto
Que encantava seu sorriso

As cores primárias a sua volta
Eram verdes, azul e amarela
Seus olhos, cabelos e tez
Eram parte dessa aquarela

Te dei as riquezas da minha alma
Te dei o infinito e todo ouro de Ofir,
Cantei versos de poesia  
E nem assim quis me ouvir

Então um sussurro de serpente
Que de tão atraente tomou conta do ar
Deslizando pela árvore da vida
Te prometeu o que não pude dar

Tanto a descobrir,
Tanto para desejar
Essa sombra te fez ver
O que ninguém podia enxergar

Então o doce se fez amargar
Teus olhos seduzidos se apagaram,
Como uma folha da árvore da vida
Caída no outono, seus sonhos secaram

E no leste da entrada,
Há poder de querubim
Uma espada chamejando
Te libertou do meu jardim

Espinho é o que te resta
Nesse vale de abrolhos.
Onde o amor mais puro
Já não contempla os seus olhos  

O doce fruto de sua ambição
Desceu pela minha garganta como absinto
Agora eu sinto do meu infinito
Tua eterna ausência





A Outra Rosa - Leh Rodrigues




                                                   
        
    
A Outra Rosa - Leh Rodrigues









Que o dia venha como açoite
Levando a noite
A fugir do coração
Que esse dia seja de luz
E compreensão

E o amor não se sinta banido
Como bandido feroz e voraz
Que a infame rosa pereça 
Nos campos da paz

Vamos juntos
Plantar a rosa da paz
Já é hora
De matar a rosa fugaz

Com amor no peito
Ela não brotará jamais
Agora é hora
De cultivar a outra rosa

Que o ódio seja fugitivo
Levando consigo
A dor e o sofrer
E um anjo nos mostre
O jardim em que se deve viver

O homem que vive aflito
Fuja do conflito
Da rosa de gás
E plante somente sementes 
Da rosa de paz

Lutem pela paz
Vivam pela paz
Já é hora
De deixar brotar
A outra rosa

Vem cultivar a outra rosa
Deixa brotar a outra rosa