Leh Rodrigues

sábado, 1 de abril de 2017

Lua Rosa - Leh Rodrigues

Lua Rosa - Leh Rodrigues

Uma luz vem em minha direção.
É como uma vela bruxuleante de incerteza.
São oito da manhã, é fim de primavera,
A lua ainda impunha sua presença,
Com o tom rosado pelo toque da luz do sol.
Em meio a todo aquele azul,
Eu vi o amor resistindo, vindo do céu.
De repente uma nuvem, como um véu de algodão,
Impediu-me de participar da cena,
E eu fiquei com o olhar parado,
Vencido pela sombra daquela nuvem,
Enciumada do meu olhar admirado,
Para aquela lua diurna e tão soturna.
Era só um dia comum de outubro,
Era eu alguém comum,
Numa rua comum, numa praça qualquer.
Mas ela, a lua, era especial, imponente,
Não importava se era dia, se tinha sol,
Se havia luz ofuscando seu cristal.
Eu estava lá,
Testemunhando sua aparição singela e bela.
Parecia que somente eu a via,
E ela se exibia apenas para mim,
Alguém comum,
Numa rua comum, num dia qualquer,
Numa praça qualquer,
Como uma discreta mulher.
Eu, a vida e aquela lua rosa,
Era tudo o que importava naquele momento.
Até que a ilusão arrebatou de mim
Aquela doce visão...

quarta-feira, 29 de março de 2017

Os Sinos do Meio-Dia - Leh Rodrigues



Os Sinos do Meio-Dia – Leh Rodrigues

Os sinos dobram ao meio-dia,
O som vem da catedral das luzes,
Que nunca brilham nessa escuridão injusta.
Pequenas e tímidas flores vencem o asfalto,
Que de assalto vence minha indiferença.
Vitrines refletem os meus olhos,
E a luz nos meus olhos reflete a verdade no meu corpo.
Minha mente é fria, mas minha alma queima como fogo.
Vejo pelos espelhos os meus passos cansados de tanto pensar,
De tanto passar por lugares e olhos alheios aos meus,
Quero ter poder sobre meus passos,
Ter força para vencer a mim mesmo.
Os sinos alertam-me para uma novo tempo,
Um momento a qual não pertenço,
Onde os sinais são apenas de lembranças de um tempo de a muito.
Assim como aquelas pequenas flores vencem o piche quente,
Eu sigo nesse calor do meio-dia.
Os sinos da catedral são avisos de que o meu dia está a caminho da noite.
Sinto a sombra das pessoas,
A me olhar com a indiferença de um cão que olha para o nada.
Criaturas saem da galeria a procura de comida,
Em busca da vida,
Impõem sua asquerosa existência aos transeuntes que torcem o nariz,
Como se o mundo subterrâneo não fosse presente em suas vidas fúteis,
Em suas mentes inúteis.
Água suja desce o meio-fio levando a subsistência aos seres abjetos do esgoto.
Os sinos tocam e me traz de volta o sentido.
Gosto da minha imagem refletida nas vitrines das lojas.
A vaidade me sorri acariciando meu ego machucado.
Vejo olhos famintos de lobos velhos mirando presas incautas e desatentas.
Carne fresca a ser consumida com os dentes da perversidade.
Crianças caminham de mãos dadas com a arrogância,
Sendo conduzidas ao reduto do tempo perdido.
Na praça o dorso opaco estático da proeminência local,
Enfrenta um obelisco,
Pouso de aves vadias e perdidas no aflorado instinto de busca pela sobrevivência.
Almas que migram da ilusão para o real,
Que mutilam a moral em nome da subsistência.
Comem no chão as migalhas da dignidade de alguém,
Que passou despreocupadamente pela praça da agonia,
Tão fria e voraz quanto um beco escuro e abandonado.
Passo pelo mercado central,
Um cheiro fétido domina o ar, odor de maresias, de algo podre no ar.
Em frente a uma escola gritos infantis,
Se misturam sutis ao barulho das buzinas.
Nesse momento o tempo para na minha mente,
E me sinto como um demente encarcerado,
Nas grades de um outro coração que não é o meu.
Volto ao passado,
Como se volta a qualquer esquina sombria de uma avenida.
Tropeço no alto relevo de um quadro mental,
Onde o artista não vê beleza na sua obra,
Como se minha mente fosse uma pintura surrealista,
Um risco incompreensivelmente tolo de algo a ser escrito.
Os sinos dobram ao meio-dia,
Vou passar desse estado de êxtase sombrio,
E tentar sonhar com algo bom,
Afinal os sinos que ouço nunca tocam o céu.
O ressoar metálico vindo daquele templo,
Anuncia que a noite avança em pleno meio-dia.

Introdução ao Sétimo Dia - Leh Rodrigues


                                    Introdução ao Sétimo Dia – Leh Rodrigues


Com o fim das criações
Um período interino
Começava o sétimo dia
E o repouso do Divino

O solo ainda inculto
Aguardando o agricultor
Nascido nas suas entranhas
Uma obra de Escultor

Um jardim localizado
Bem regado pra guardar
O Éden, um paraíso
Para o homem habitar

Quatro rios serpenteiam
Toda área paradisíaca
Uma lei de existência
Na ciência metafísica

Um parque lindo
Incômoda solidão
Os animais são amigos
Só não acalentam o coração

O milagre acontece
Uma prece com fé
O sono onírico
Da costela uma mulher

Osso dos meus ossos
Um só corpo se tornavam
Carne da minha carne
Da nudez não se envergonhavam

O criador oficia o casamento
Sacramento que há de perdurar
A família na busca da felicidade
Mas a maldade é que irá os alcançar



domingo, 26 de março de 2017

Sobre os Ventos de Agosto - Leh Rodrigues




 Sobre Os Ventos de Agosto – Leh Rodrigues

Os ventos de agosto
Sopraram uma canção
Dois nomes se ouviram
Em um só refrão

Dois caminhos se cruzaram
Onde hiberna o calor
A mensagem de uma brisa
Avisa o nascer de um amor

Ventos brandos se transformam
Tempestade e tempo vil
Se o amor é nosso Norte
Correnteza é manso rio

O tempo tatuou sua marca
O amor sua paixão
Cicatrizes nos legaram
Uma história de emoção

Fizemos um jardim
Nosso próprio paraíso
Onde existe mar de rosas
Não se nega um sorriso

O céu é testemunha
Do amor que conquistamos
As sementes que brotaram
São heranças que amamos

Não há cartas de amor
Nem começo sem um fim
Mas o adorno dessa vida
Mantém vivo o jardim

Os ventos de agosto
Sopram o fim do inverno
O passado foi deposto
Deu lugar ao que é eterno



Anjo Sem Juízo - Leh Rodrigues