A Ladeira – Hudson
Alexandre (Leh Rodrigues)
Estou
aqui entre pensamentos incertos e uma ladeira implacável
Um
bar escuro embriaga a vida,
No
ir e vir de pessoas perdidas em busca de sentido e direção.
E cá
estou corpo e coração.
Moças
deselegantes conversam despretensões diárias.
Velhos
sonhadores se debatem em filosofias domésticas.
E eu
invisível acompanho tudo, sem muita relevância nem aprendizado.
Dia
após dia o mesmo vai e vem de carros e passos apressados.
E
aquele bar escuro, reduto de homens em busca de muletas,
Buscando
sufocar a agonia de mais um dia que se vai
Não
há quinto dia nem salário que baste ou
Dê
sentido nesses corações encerrados em quatro paredes,
Enterrados
a sete palmos de suas ansiedades e medos.
Descem
pela vida como um caminhão sem freio,
Por
essa ladeira cruel que margeia o tempo sem fim.
O
céu azul está salpicado de chumbo,
Parcialmente
encoberto de árvores sedentas de água.
E as
casas dessa ladeira escondem as angústias cotidianas,
De
doenças cotidianas, de mentes balzaquianas.
O
sol é tímido, mas arde na pele.
As
aves se perdem no ar, como morcego sem radar,
Como
alguém que perdeu o instinto materno,
Como
aventureiro sem bússola.
Na
ladeira, a subida é difícil!
As
dores do corpo realçam,
O
semblante de um dia duro e exaustivo de uma mulher
E
quando ela entra pelo portão do seu refúgio,
Começa
a segunda parte de uma rotina viciante.
E a
vida gira como roda gigante,
Mas não
como a mesma graça e leveza de suas lembranças de menina.
Mas
é preciso acordar do sonho, das saudades.
O
passado é só uma bobagem nostálgica,
Que
passa inconsequente pela sua mente,
E
mente, mente até que ela se convence que realmente passou pra nunca mais.
O
dia é quente,
Talvez
trinta e cinco graus de um mormaço que perturba a tez.
E o
bêbado sentado na calçada,
Com
a cabeça baixa e zonza pensa em como seria a vida se ele não estivesse ali, Naquele
momento.
Seus
trejeitos afeminados e alegres,
Como
os gestos de um louco suspeitam os transeuntes,
Que
o fitam num misto de medo e pena.
E
agora ele se levanta e sobe a ladeira no seu passo trôpego e lento.
Vai
subindo e sumindo, enquanto a esquina o engole todo,
Do
mesmo jeito que ele engoliu o contéudo inebriante de seu copo de angústia.
Há
no pé da ladeira um córrego ladeado de pequenos arbustos,
Como
crianças ladeiam ambiciosamente os adultos.
O
fluxo de sua corrente impura rola devagar,
Enquanto
vidas vadias olham para o nada,
Para
os carros que descem a ladeira sem pretensões de destino.
Rodas
deslizam ladeira abaixo,
No
mesmo tempo que passos tristes caminham devagar,
Tentando
frear o tempo refletido nas marcas de um dia sem brilho,
Nas
velozes asas da vida.
No
dia seguinte estarei no lado inverso da ladeira.
Encimado
no orgulho e soberbia alegre,
De
quem parece não ter uma rotina maçante.
Uma
pomba voa com o voo da paz,
Sob uma
inquietação adolescente que paira no ar.
Sinais
e setas indicam o vai e vem de caminhos sem volta.
O
vento se fez perceber,
Pelos
cabelos que perturbam meu olhar,
Pelo
balanço dos galhos,
Pela
danças das nuvens que em figuras imaginárias enganam meus olhos.
E eu
continuo invisível a esperar o ônibus,
Que
irá me tirar dessas realidades alheias,
E
irá me levar para casa, onde alguém espera ansiosa a minha volta,
Para
me abraçar, me beijar e perguntar como foi o meu dia.
E eu
distante dessas sagas cotidianas,
Continuarei
a imaginar essas pessoas e,
Carros
passando displicentemente por essa ladeira,
Que
eu chamo de vida.
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