Leh Rodrigues

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Fantasmas - Leh Rodrigues


Fantasmas – Leh Rodrigues

Tantos fantasmas assombram a vida
Mas não preciso de ansiolíticos
Me bastam apenas um pensamento bíblico
Ou um folk do Dylan
Preciso de uma saída
Não uma fuga num prato de comida
Apenas um sorriso de um olhar amigo
Nada mais que a sombra de uma árvore
E a brisa suave que sopra doce em minha face
Constrangida pelo calor desse sol acima
Preciso apenas de uma gota de vida
Nuvens e chuva, relâmpagos e trovões,
Onde foi parar o arco-íris?
Não quero ficar entorpecido com artifícios,
Quero apenas o beijo do amor nos meus lábios
Quero brilho nos olhos de quem amo
Não quero a neurose louca da razão  
Ou o descontrole demente dos que se acham sãos
Quero me agarrar à vida
Assim como uma folha se apega ao ramo
Em busca da seiva de uma esperança viva
Quero que correnteza de sentimentos bons
Fluam em forma de letras e acordes do meu coração
Não quero ser astro, nem estrela
Quero apenas vomitar das minhas entranhas
Toda a ânsia em forma de poema ou canção. 

Expiação - Leh Rodrigues



Expiação - Leh Rodrigues

Uma vida inteira de perdão,
Não será suficiente para apagar seus pecados.
Um oceano inteiro de misericórdia,
Não encobrirá sua culpa.
Um universo imenso de indulgências,
Jamais irá expiar o peso da sua consciência.
Seus pés caminham sobre plumas de chumbo.
Tem um lobo tatuado na alma
E a sombra de uma ovelha no coração.
Com as asas do devaneio,
Seus olhos percorrem com volúpia
Os deltas entre os dois pilares nus de edifícios sedutores.
Esperando que cachoeiras gozem sem parar
Numa queda livre de águas em tormento.
Esperando que olhos pagãos te queimem
Com a febre do verão em picos gêmeos e montes simétricos.
Imagens deturpadas se formam no horizonte da sua mente perturbada.
Ele se esconde em cavernas escuras em algum recôndito de sua mente.
Levita nas profundidades de um mar lamacento
Que o impede de emergir à superfície em busca ar
Então se lembra do dito proverbial:
"Bebe água da tua própria cisterna"
E sente a sombra da expiação sobre sua alma
Anda pela vida como os cães errantes da cidade
Caminha sobre um rio de sangue
Suas pegadas vão ficando impressas no tempo
Nunca foi capaz de guiar um cego por um caminho de luz
Vermes inquietantes da escuridão corrompem suas entranhas
Voa ser alado, para algum lugar do passado,
Resgata as indulgências dessa alma perdida....



Eu Choro - Leh Rodrigues

                                               Eu Choro - Leh Rodrigues 
Eu choro...
Os heróis e pensadores
Que sucumbiram ás mãos do tempo
As escaras que brotam no divã
Dos intelectuais do vento.

A patologia latente
De uma mente poderosa
O gemido doente
De uma dor escandalosa

As lágrimas que caem lentas
Nos olhos da inanição
Os trilhos por onde caminham
Os caudilhos de uma nação

Eu choro....
Cada folha derrubada em vão
No chão seco do medo varonil
O fogo que se alastra rente
E nos guizos da serpente seduziu

O eco perdido nas cordilheiras
O grito surdo da comiseração
A inércia da misericórdia
Nos direitos torpes da corrupção

A seca da intolerância que mata
A seiva na língua reprimida
A fonte estéril que seca a luz
E reduz a esperança de uma vida

Eu choro....
Os sonhos perdidos
Na enxurrada de avenidas,
O plasma exaurido na luxúria
Dos becos escuros e sem saída.

O céu que chora plangente
Toda sua demente frustração
O escravo cego do preconceito cego
Cegueira da mente, alma e coração

A reverência mística
Á sombra de uma árvore,
A fúria de um deus ciumento
E o tempo cavalgando nas asas de uma nave

Eu choro...
A impotência opressora dos fracos,
E o naufrágio dos barcos errantes
Os filhos do psicotrópico
E o trópico de câncer

A distante ilha solitária
Em meio a um mar de confusão
O sol de sangue que se nasce
No ocaso do Japão

A fumaça que sufoca, a morte
O chicote que lambe com açoite
A mulher que chora calada
Na calada da noite






Marionetes e Fantoches - Leh Rodrigues

 Marionetes e Fantoches - Leh Rodrigues
Eles vivem em um cenário surrealista.
Um teatro a céu aberto, onde sustentam-se máscaras como em um baile de Veneza.
Onde a falsa beleza impera nas vitrines coloridas da vaidade.
Onde roubam a inocência das almas desarmadas.
É um cenário onde não há mais idealismos reais e onde os discursos de igualdade não saem realmente do coração.
Um teatro de fantasias e ilusões se apresentam a eles, uma plateia anestesiada, extasiada, entorpecida pelo ópio das expectativas que nunca alcançam.
Esse é o mundo deles.
Esse é o mundo, que molda o ser, a partir do fio umbilical, da palmada arbitrária que faz entrar pelas entranhas o primeiro sopro de ar, o primeiro choro, que dá início a vida. 
Doravante, teorias e práticas, verdades e mentiras, vícios e virtudes se ocuparão deles, formando a sua humanidade.
Nas suas instituições serão doutrinados para o bem coletivo.
Ouvirão discursos sobre liberdade e outros clichés que darão sentido a sua jornada.
Em alguns lugares, muitos não terão esse privilégio, pois não haverá sequer comida para a formação biológica.
Quanto mais demagogias de formação de caráter social.
Eles têm bons professores que patinam em meio a esse círculo vicioso de ideias e inovações. Mas eles mesmos não passam de vítimas do sistema.
É um mundo em que marionetes e fantoches governam, sob o cetro de príncipes covardes que vivem escondidos nas cavernas do imaginário secular.
São como serpentes do deserto, camuflados, esperando o momento do bote.
Eles vivem em um cenário de belos arranha-céus mundo afora, disputando entre si a proeminência dos gananciosos e soberbos.
Um mundo onde a burguesia, religião e política vivem um ménage.
Embora seja uma relação estéril na terra da justiça, produzem filhos corruptos no solo da maldade.
É um mundo onde a globalização leva a realidade pela mídia, mas estão todos entorpecidos no seu mundo particular para fazer mais do que chorar as desgraças mundo afora.
A indiferença seca suas lágrimas e voltam ao leito, como se fosse um divã da consciência.
Todo o seu desenvolvimento humano é creditado a uma teoria de seleção natural e explosão espontânea, como se criação e criador fossem a mesma coisa, ao mesmo tempo do outro lado o caos espontâneo impera em solo sagrado.
Eles labutam na esperança de um futuro melhor para sua prole. Eles morrem aos montes, como moscas ingerindo pesticidas, e ainda assim sentem-se, indestrutíveis, como se fossem imortais. Sobrevivem de filosofias de autoconhecimento, se alimentam da luxúria, da carne podre da sua cultura de vanguarda.
Há um cheiro podre no ar, há um cheiro de enxofre vindo do mar...

terça-feira, 13 de junho de 2017

Um Céu Que Chora - Leh Rodrigues



Um Que Chora – Leh Rodrigues

As horas já estavam correndo
O tempo era absoluto,
Parecendo um velocista olímpico.
A ansiedade turbinava a mente
E a chuva caia forte e displicente,
Como se não houvesse mais nada abaixo de si.
Na superfície nada fazia sentido,
Mesmo assim,
Sonhos se iam com a enxurrada transbordante.
Todos se escondem embaixo de marquises
Ou se aventuram sob as árvores das ruas.
Relâmpagos e trovões são prenúncios
De que o céu chora por nós.
E essa torrente de lágrimas ácidas respinga em mim ao tocar o chão,
Eu me esquivo,
E não entendo o porquê do meu gesto,
Essa água não faz mais
Do que expiar toda a sujeira do meu corpo,
Todos os resíduos da minha alma contaminada
Pelos fluxos de minhas entranhas.
Todos se afugentam buscando alguma proteção dessa expiação celestial.
Mesmo sendo tão necessária,
Queria que fosse embora e desse lugar ao aconchegante sol de maio.
Aquele que me aquecia nas frescas tardes de outono.
Ela vai passar, ela está passando,
Ouço os últimos ecos dos trovões.
Ainda percebo os reflexos da glória celestial riscando o firmamento,
Em busca do chão...