Leh Rodrigues

terça-feira, 14 de março de 2017

Cíclico - Leh Rodrigues


                                           Cíclico – Leh Rodrigues

O princípio do homem é muito singelo e ao mesmo tempo assombroso.
Uma química romântica,
Um encontro apaixonado de gametas que dá início à vida.
É um processo misterioso, complexo,
Que mesmo as mais sábias mentes entre nós se confundem ao explicar.
Ínfima saga que discorre no livro da vida e determina forma,
Características e personalidade de uma minúscula célula.
Dentro do cronograma pré-estabelecido,
Um ser vivo, inteligente flutua consciente num mar amniótico de incertezas,
Protegida pelas doces águas de uma redoma,
Uma fortaleza hídrica e delicada,
Como um peixe num aquário escuro
Que se agita tranquilo na ânsia de perpetuar seu lugar.
Mas, há sons externos,
Há algo mais lá fora e que precisa ser explorado.
A luz brilha fora desse aquário.
É preciso mesmo sair?
Alguém dará à luz ao ser ou apenas o irá expor à verdadeira escuridão?
Uma gigantesca força natural ou uma fenda nas entranhas a ser suturada,
E a vida sendo expelida, o expulsa de seu abisso mundo.
A luz ofusca ao sair.
Um desconforto e uma dor.
É preciso chorar para começar a viver.
Eis o real ponto de partida!
Nos braços maternos a progênie, um futuro.
Um livro por ser escrito.
Agora começa uma relação normal ou... bizarra.
Relação de amor e ódio,
Proteção e descaso, carinho e indiferença,
De lições e silêncio, de justiça e violência,
De ontem e amanhã.
A saída, ou quem sabe a fuga do lar,
Um novo começo em outro lugar.
O ser busca a si mesmo,
E tenta conhecer-se, afinal, ele veio da escuridão para a luz.
Ou da luz para a escuridão?
Seu vazio é preenchido de modo a revelar o caráter e sua origem.
Na busca da resposta encontra seu oposto
E se torna uma instituição.
Então volta ao princípio, ao ponto de partida,
E começa tudo de novo, do mesmo jeito:
Ínfimo, singelo e milagrosamente assombroso!

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