Leh Rodrigues

quinta-feira, 16 de março de 2017

Mitra e Jano - Milenar Círculo Vicioso - Hudson Alexande Leh Rodrigues

        

Mitra E Jano: Milenar Círculo Vicioso – Leh Rodrigues

Mitra:
Após um longo inverno,
Cúmplice de uma escuridão implacável,
Surge o Sol Invictus venerado desde os mais remotos espíritos.
Mitra ocupará o coração que deveria ser dedicado ao verdadeiro rei.
Mas a alegria de sua luz festiva,
Compensa a profanação em nome da boa união familiar e,
Do espírito de indulgência e da caridade.
A hipocrisia moral então domina,
As casas sinalizadas com azevinhos e as salas enfeitadas com árvores recheadas, Retratadas de reciprocidade egoísta.
Como no carnaval,
A moral já não importa desde que se focalize a distante figura do menino-deus.
Basta que a efêmera felicidade seja a mãe do momento,
Acalentando os filhos com leite adulterado e mel venenoso.
E que a ilusão venha vestida de bom velhinho
Oferecendo o colo em troca de presentes.
Que o inanimado rei veja tudo e,
Abençoe com sua bruxuleante luz
As nuvens da angústia sopradas na terra de um povo alienado,
Que prefere o amargo da verdade primordial, ao doce sabor do excesso carnal.
Que nesse dia de dezembro
A estrela mágica alegre as mentes profícuas e
Mantenha cega a visão do que descansa no firmamento.
Que tudo seja apenas hilaridade e diversão.
Mesmo que a ressaca do novo dia os prepare para outro dia festivo
E honrem outro deus, que se surgirá com a morte do velho ano.

Jano:
Tal novo dia festivo
Aplaca as dores estampadas em máscaras sorridentes
Que escondem a realidade crua das ruas e sarjetas
Dos grandes e tecnológicos centros.
A miséria torna-se uma verdade distante e alheia,
Onde não encontra por ora espaço pra diálogos ou polêmicas.
Demônios arrogam-se em anjos benfazejos,
Que sovinamente diminuem um grão de infortúnio do cotidiano de alguém.
Os indultos da indulgência imprudente transformam risos em choro.
Mas a vida continua e o luto já não faz sentido.
A festa cura-os de seus males como paliativos da dor.
O juízo entorpece a razão embriagada,
Com os excessos de um único dia dedicado a Jano,
Guardião do renascimento do tempo que começa e termina a cada ano,
Da vida que se esvai, dia-após-dia.
O espírito festivo disfarça uma desumanidade evidente,
Mascara uma maldade latente, do laicismo romano.
Atos bondosos apelam para o espírito humano,
Para que haja conscientização fundamentada,
Nas expectativas que serão frustradas,
Pelo esquecimento dos votos do velho ano,
E pelas ansiedades que não serão apaziguadas
Pela devoção inconsciente a Jano,
Que como sempre se manterá morto a entrada do portão do tempo,
Até que seja invocado,
Vivo apenas no espírito apóstata de um novo dia que começa a cada ano.
Que os fogos de artifícios atendam aos seus ofícios
De espantar os demônios de cada casa,
Á medida que seus adoradores acordem ressacados para a vida real,
Para um novo ano, que também será juntado a um circulo vicioso.


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